You And I - Capítulo 80
Do outro lado da porta ouviu-se um "entre". George olhou para Theresa e, logo de seguida, abriu a porta do quarto. Entrou primeiro, sorrido aos pais e à irmã de Theresa. Depois, desviou-se ligeiramente e deixou que ela entrasse. Theresa tremia de ansiedade, de nervos. Mas conseguiu entrar. Parou ao lado de George e, assim que viu a família, levou as mãos ao rosto, sem acreditar que aquilo era mesmo real. As lágrimas foram imediatas. Louise correu para a irmã, sem dizer nada, e abraçou-a, também ela a chorar. Os pais estavam abraçados um ao outro, a observar aquele momento das duas filhas. Depois, Louise largou Theresa e deixou que a irmã corresse para os braços dos pais, que não via há praticamente dezassete anos. Louise acabou por se juntar também ao abraço de família e os quatro permaneceram assim durante vários minutos.
- Nem acredito que te tenho nos meus braços novamente, Theresa! - Foi Candice quem falou assim que aquele abraço terminou. Limpou as lágrimas do rosto da filha e depois puxou-a para se sentarem no sofá. Bryan sentou-se do outro lado da filha e Louise ajoelhou-se à frente da irmã. - O que é que aconteceu, filha? - perguntou
- Ainda não sei ao certo, mãe... - Theresa disse. Ainda era estranho estar a chamar "mãe" ao fim de tanto tempo - Só sei que durante todos estes anos achei que tu e o pai estavam mortos por causa de um acidente e que tu, Louise, tinhas simplesmente cortado relações por causa de todo o sofrimento... Pelo menos, sempre foi esta a história que ouvi... - ela contou
- Já nós sempre acreditamos que tinhas morrido naquele acidente.. Tu e o teu menino, o nosso pequeno Leonard... - Theresa disse, novamente a chorar
- Só quero saber como é que conseguimos viver nesta mentira durante tantos anos... - Bryan disse - Ele fez as coisas mesmo bem feitas... - disse, zangado, claramente referindo-se a Edward
- De facto, ele fez mesmo tudo muito bem feito... - Theresa concordou, lamentando que assim tenha sido
- Agora só temos de juntar as peças todas para conseguirmos perceber o que aconteceu... - Louise sugeriu - Apesar de o Edward ser o único a poder confirmar tudo, acho que vamos conseguir saber muito se contarmos a versão de cada um de nós. Porque nalgum ponto vamos conseguir perceber como é que esta confusão se criou... - acrescentou
- O meu acidente aconteceu mesmo... - Theresa confessou - E o Leo ia comigo no carro - acrescentou. Parou um pouco para se tentar lembrar de tudo o que pudesse ser importante. E também para ganhar coragem. Estava prestes a reviver um dos dias mais dolorosos da sua vida. - Vocês sabem que as coisas no meu casamento nem sempre foram fáceis... - Recomeçou - Até à gravidez eram aqueles problemas de casais normais, mas já era alguma coisa. É verdade que com a gravidez eu estava mais feliz. Ficar grávida do Leo, na altura, foi o melhor que me aconteceu. - Ia contando enquanto a família e George ouviam atentamente - Passei a minha gravidez quase toda aqui no hotel - recordou com um sorriso - Depois do Leo nascer eu fiquei em casa algum tempo, cerca de uns três meses, e as coisas só pioravam... Eu estava sempre sozinha, o Edward nunca estava em casa. Eu adorava ser mãe, mas sentia que era só isso. Não tinha grandes amizades e não podia estar sempre aqui no hotel com um bebé tão pequeno... Nessa altura, vi um anúncio para um emprego como decoradora. Nem pensei duas vezes, enviei uma candidatura e pronto. Felizmente fui chamada logo a seguir... Ou infelizmente... - Parou um pouco. Pelos vistos, arranjar aquele emprego fora o início daquilo tudo - O Edward não achou grande piada, mas como podia trabalhar muito tempo em casa, lá acabou por aceitar. Quando eu não estava em casa e tinha de ir ao escritório, o Leo ficava com uma ama que ia lá para casa. O emprego era um sonho. Fazia o que gostava, os meus colegas eram fantásticos... E depois conheci uma pessoa que me ajudou tanto... As coisas em casa estavam a ficar pior, o Edward controlava muito e, quando vinha cansado do trabalho, implicava com tudo e mais alguma coisa. - Theresa ia contando. Estava quase a chegar à parte do acidente - O Joseph era um dos meus colegas de trabalho. Um amigo, na verdade. Com ele eu conseguia sorrir, conversar... Tudo o que os amigos fazem... Davamo-nos muito bem e ele adorava o Leo, era como se fosse um sobrinho para ele... O Edward não gostava dessa nossa relação, claro. No início pensava que eu andava envolvida com ele e fez um escândalo um dia que chegou e o viu lá em casa comigo, a trabalhar... - Theresa continuava a recordar - Mas isso era impossível... Primeiro, porque eu era casada e seria incapaz de trair o meu marido, por muito infeliz que estivesse. E segundo, o Joseph era homossexual. Depois de saber isso, o problema passou a ser eu dar-me com um homossexual, claro. O Edward sempre foi ligeiramente conservador e preconceituoso... - disse - As coisas no casamento não melhoravam e eu cheguei a desconfiar que ele tinha uma amante... Um dia o Joseph recebeu uma proposta de emprego, em França, e perguntou-me se eu queria ir com ele. Ele sabia que as coisas não estavam bem e só queria ajudar - relembrou - Eu disse que não. Tinha o Edward e tinha o Leo, não podia deixar tudo para trás. Além de também vos tinha a vocês na América. Mas um ou dois dias depois, eu e o Edward tivémos uma discussão grande, a pior de todas e ele quase me bateu. Ele saiu de casa logo a seguir, furibundo... Voltou de madrugada... E eu decidi que já chegava, que estava cansada daquela vida. Por isso, arrumei as malas, as minhas e as do Leo. Apenas com algumas coisas para ele não perceber e, na manhã seguinte, assim que ele saiu para trabalhar, sem se despedir de mim ou do filho, eu saí de casa. Fui ter com o Joseph, que já estava pronto a seguir para o aeroporto e disse que íamos com ele. A ideia era ir com ele para França, trabalhar, e depois ficar pela Irlanda... Tu na altura estavas lá... - disse, referindo-se à irmã - E eu sabia que ali era a minha casa e que um dia os pais iam regressar, nem que fosse quando se reformassem. E o Leo podia crescer ali, feliz, tal como tinha acontecido connosco - confessou - Mas, não sei bem como, o Edward teve de voltar a casa e percebeu que não estávamos lá... Deve ter reparado que faltavam coisas nossas e ele sabia que, se era ara fugir, eu não viria ter convosco, seria demasiado fácil encontrar-me... Por isso, bastou pensar um bocadinho e foi a casa d Joseph. Os pais dele não sabiam a minha história e nem faziam ideia de que, naquele dia de manhã, eu me estava a preparar para fugir com o filho deles, por isso disseram ao Edward onde estavamos. Nós nunca pensámos que ele fosse descobrir antes de termos tempo de embarcar... O Edward seguiu-nos e quando nos apercebemos, o Joseph acelerou e acabámos por ter um acidente... - Theresa parou e, de repente, começou a chorar. Louise abraçou-a. - O Joseph morreu no acidente... - conseguiu dizer entre soluços - Eu fiquei em coma e o Leo foi o único que escapou ileso por ir na caderinha - contou, sempre a chorar - Quando acordei, alguns dias depois, o Edward disse-me que vocês tinham voltado à Irlanda, para resolver uns assuntos, e que quando lá chegaram tinham tido um acidente e que infelizmente não tinham escapado... Foi um choque... Eu sentia-me culpada pela morte do Joseph e depois tinha um peso enorme na consciência porque sentia que, por causa do acidente, tinha perdido a oportunidade de me despedir de vocês. Mais tarde, quando já estava recuperada, tentei entrar em contacto contigo Louise, mas o Edward disse que tu te tinhas afastado, eu nem sequer tinha um contacto teu... Era como se já não existisses... - contou, triste - Tente refazer a minha vida. Ainda pensei voltar à Irlanda, mas não consegui. Não tive forças. E depois engravidei da Laura e acabei por refazer a minha vida aqui, sempre a acreditar que era apenas eu e os meus filhos... E os meus sogros, que sempre estiveram do meu lado... - concluiu
- No dia do acidente era suposto vires ter connosco, tinhamos combinado lanchar e conversar um pouco, era a minha tarde livre - Theresa contou - Mas não aparecias e o Edward não dizia nada. E os pais dele estavam de viagem, também não nos podiam ajudar... - Candice contou - Depois, à noite, o Edward ligou e disse-nos que tinha havido um acidente - Candice soluçou - Disse que não tinhas sobrevivido, nem tu nem o Leo... Para nós foi o fim... O Edward disse que tinha sido grave... Nem sequer fomos reconhecer o corpo porque ele tratou de tudo... Depois, ele ainda disse que dada a gravidade... Só sabemos que houve uma cremação e só já vimos as cinzas, que ainda temos lá em casa... Ele disse que era isso que querias, mas agora percebo que foi a maneira de nunca chegarmos a ver o corpo - Candice continuou, procurando acalmar-se, mas teve de ser Bryan a prosseguir
- Era impossível continuarmos aqui, por isso decidimos regressar à Irlanda, ir para junto da Louise - Bryan disse - Era demasiado doloroso ficar aqui, eram muitas as memórias... - acrescentou - Foi uma ferida que nunca sarou, mas tentámos refazer a nossa vida lá. Trabalhámos, tivémos duas netas... Mas faltava sempre alguma coisa - disse, também ele a chorar. - Ainda custa a acreditar que estás mesmo aqui, filha... - disse, voltando a abraçar a filha - Mas tivemos esta oportunidade e agora temos de recuperar todo o tempo perdido... - Bryan disse. Secou as suas lágrimas e depois secou as lágrimas de Theresa - Estou ansioso por conhecer a tua vida, para conhecer a Laura e rever o Leo - ele disse
- E vamos ter oportunidade para isso... - Theresa disse, feliz - A Laura está... Bem, ela teve um pequeno acidente e está internada... Mas não é nada de grave, foi mais um susto que outra coisa... - Theresa explicou, descansando a família - Mas acho que ela ia gostar muito de receber a vossa visita... - disse
- Estou ansiosa para conhecer os meus netinhos... - Candice disse, emocionada - O Leo era tão pequenino, sinto que é como se nunca o tivesse conhecido... - explicou
- Mas há uma coisa que antes ainda gostava de saber... - Louise disse - Se antes do acidente as coisas entre ti e o Edward estavama assim tão mal, como é que depois voltaste para ele, tiveste outra filha e continuaram juntos durante tantos anos? - quis saber. E, na verdade, todos tinham essa dúvida.
- Mais uma longa história... - Theresa disse, suspirando. Parece que a visita a Laura teria de esparar mais um bocadinho.
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Boa tarde, como estão? Aqui fica mais um capítulo, desta vez com a versão de Theresa e dos pais sobre esta situação do acidente. Ainda falta desvendar alguns pormenores, especialmente com esta pergunta final de Louise. Mas espero que tenham gostado de conhecer o passado de Theresa, o que levou àquele acidente. Obrigada a quem tem acompanhado! Fiquem bem e até ao próximo capítulo :)